"Supõe-se que a arte é política porque mostra os estigmas da dominação, ou então porque coloca em derisão os ícones reinantes, ou ainda porque sai dos seus lugares própios para se transformar em prática social, e assim por diante. Depois de um século bem contado de suposta crítica da tradição mimética, é forçoso verificar que esta tradição continua a ser dominante nas formas que se pretendem artísticas e politicamente subversivas. Supõe-se que a arte nos torna revoltados ao mostrar-nos coisas revoltantes, que nos mobiliza pelo facto de se mover para fora do estúdio do artista ou do museu e que nos transforma em opositores ao sistema dominante negando-se a si mesma como elemento desse sistema. Coloca-se sempre como uma evidência a passagem da causa ao efeito, da intenção ao resultado, excepto se se supuser que o artista é inábil ou o destinatário incorrigível."
Retirado de:
ESPECTADOR EMANCIPADO, cap "Os paradoxos da arte política"- Jacques Rancière
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