quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Argentina e a Construção da Autonomia Silenciosa


O ano de 2001 foi um marco político e socioeconômico na República dos “hermanos”. O fim de um pacto entre a burguesia industrial e o Estado Nacional levou ao aprofundamento de uma crise econômica e política sem precedentes. As consequências foram amargas: falência do sistema financeiro, altos índices de desemprego e perda de direitos trabalhistas. E, claro que a elite declarou falência e retirou seu capital da reta com uma forte ajuda do mau governo.

Dentro deste contexto, emergiu com força o Poder Popular e uma resistência dos de baixo na construção de um Projeto Político Autônomo e Criativo. Milhares de fábricas ocupadas, retomada da cultura popular, florescimento de rádios e Tvs comunitárias, bibliotecas, assembleias barriais, cooperativas, hortas urbanas, centros culturais, feiras livres e da vida solidária.

Reconhecemo-nos na luta por outras formas de fazer e viver a política, de não vivermos mais a imagem distorcida colonizadora/racista, da busca de ações diretas emancipadoras e transformadoras. São inúmeras as experiências autogestionadas que imprimem outras formas de pensar e construir relações, subjetividades e afetos para além do individualismo capitalista.

Percebemos um esforço claro na construção de frentes políticas com correntes diversas da esquerda. No entanto, parecem mais reluzentes aquelas que têm um apontamento não oportunista e eleitoreiro como a luta contra a mega-mineria e contra a violência às mulheres. Na realidade, diversos setores vêm buscando a força na tradicional unidade para mobilizar pelas suas demandas, desta maneira, as ruas de Buenos Aires são um palco de inúmeras mobilizações.

São muitos os caminhos que as Raízes do Poder Popular ganharam, mas o trajeto parece muito claro: a autonomia do povo perante o mau governo e os tubarões da elite econômica, um longo e demorado caminho, porém com muito ânimo nos momentos do porvir.

É importante deixar claro que estamos falando do mundo real com inúmeras dificuldades. Dentre as principais, a precariedade das fábricas recuperadas, o Peronismo como força política messiânica, a cooptação das bandeiras de luta de diversos movimentos populares por parte do Kirchnerismo, assembleias longas e os protestos como espetáculo sem real efetividade. Ou seja, na Republica das Batatas as organizações sociais tem como principal desafio superar seus próprios vícios. Mas deixamos um salve para a força destes indivíduos que, sem glamour, com disciplina e disposição vêm rompendo as cercas da dominação diariamente.


Todo este esforço pode cair por terra se não existir um esforço do povo argentino em reparar o genocídio feito com os povos pretos e originários. Não adianta tentar esquecer, pois a ferida está aberta e sangrando. Pior ainda, os pretos e descendentes dos povos originários são invisibilizados nas favelas “villas misérias”, mistificados na cultura folclórica e precarizados no trabalho.   
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