por Cathia Abreu
Quilombolas no lançamento da Agenda Social Quilombola e do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, no Palácio do Planalto em Brasília |
No Brasil escravista, os quilombos ganharam sentido de comunidade autônoma, e escondiam fugitivos, tomando dimensões que colocavam em risco a economia do país, sustentada pelo trabalho escravo. Localizados em torno das grandes concentrações urbanas; nesses refúgios, existia trabalho, moradia e meios para viver e idealizar a liberdade. No maior deles, o Quilombo dos Palmares, na região da Serra da Barriga, em Alagoas, a comunidade tentava reproduzir a tradição africana e a organização social da África mãe, com suas lideranças: reis, rainhas e príncipes.
Zumbi é símbolo da causa pela democracia racial, motivo pelo qual é lembrado em 20 de novembro, data de sua morte, e Dia da Consciência Negra no Brasil |
O Quilombo dos Palmares do tempo colonial pereceu no início do século XVIII, mas renasceu mais tarde como União dos Palmares, cidade histórica, criada no final do século XIX. A região guarda a história de luta do lugar. A Serra da Barriga, no entanto, palco dos acontecimentos protagonizados por quilombolas, permaneceu adormecida por algum tempo, mas sua história foi perpetuada, pois o lugar foi tombado como patrimônio e reconhecido como Monumento Nacional. No ano de 2007, União de Palmares ganha novo fôlego, com o nascimento do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, que imortaliza o local como símbolo da luta pela liberdade e referência de uma História de resistência, de organização social e política.
ORGANIZAÇÃO social que hoje se difunde pelos milhares de quilombos espalhados pelo Brasil, que preservam sua cultura, seus fazeres e lutam por direitos. Direitos esses que foram assegurados pelo Decreto 4.887, de 20 de novembro de 2003, por exemplo, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. O artigo 2° da resolução considera "remanescentes das comunidades dos quilombos, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida".
Os quilombos, hoje, são conhecidos não só por abrigarem histórias.
Com suas várias designações: mocambos, terra de preto, comunidades negras rurais, comunidades de terreiro, entre outras expressões que, para os leigos, generalizam esses grupos sociais, descendentes dos primeiros africanos no Brasil, os "remanescentes", os "quilombolas" resistem e afirmam-se, quando propõem um novo modelo de sociedade. Com essa bandeira, manifestam- se e reafirmam sua cultura, lutam por seus direitos. Eles continuam cultivando a terra de seus ancestrais e, de um jeito próprio, preparam o futuro de seus descendentes.
Quilombo significa um processo de trabalho autônomo das comunidades negras,
livre da submissão dos grandes proprietários
livre da submissão dos grandes proprietários
Porém, para alguns especialistas, o conceito de quilombo não pode ser apenas territorial, circunscrito a uma região específica. Quilombo significa um processo de trabalho autônomo das comunidades negras, livre da submissão dos grandes proprietários.
Desde 1988, com a Constituição, criou-se uma série de novas ações que atingem a questão da preservação do patrimônio cultural, como a que atua na conservação da memória de um dos "grupos formadores" de nossa nacionalidade - a população afro-descendente -, o que se daria por meio da valorização e proteção da história das comunidades que resistiram à opressão da escravidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário