segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Carta de repúdio ao aumento das passagens



 A estrutura das cidades brasileiras e, de um modo geral, das do mundo ocidental, no presente momento histórico, informa um modelo de produção do espaço estreitamente ligado aos processos assimétricos de produção de mais-valia. Esses processos têm como mote, como vimos afirmando: a promoção de desigualdades socioespaciais ocasionada pelo regime de propriedade e, sobretudo, a desigual distribuição e acesso aos bens e serviços necessário à vida digna sobre o espaço.

Isso se verifica, por exemplo, na localização dos principais equipamentos públicos e privados que asseguram melhores condições de vida (hospitais, escolas, espaços públicos, local de trabalho etc.) que, por sua vez, estão sempre alocados próximos às residências das classes sociais mais abastardas e parte dos setores médios. Neste sentido, apenas esses indivíduos tendem a gozar com maior plenitude das benesses do viver urbano. Os demais indivíduos, que não habitam nesses locais mais privilegiados, tendem, na maioria das vezes, a se adequar, de maneira muito mais custosa, aos mecanismos de acesso aos equipamentos provedores do bem estar, pois, por conta do próprio modelo de construção da cidade, foram condenados a morar distantes dessas amenidades, nas bordas periféricas e semi-periféricas dos centros urbanos.

A mobilidade é, dessa forma, um fator decisivo na promoção da igualdade de acesso à esses equipamentos. É insano conceber que quem mora nas periferias, distantes, portanto, das principais amenidades urbanas, deva pagar elevada soma pra se deslocar (sobretudo por meio do transporte público). Pois quando isso ocorre, o valor das pessoas e, conseqüentemente, as oportunidades de vida e de bem-estar, estarão de acordo com o lugar onde vive.

Na verdade, é também insano conceber que um cidadão deva se desdobrar para exercer o seu direito de ir e vir! Assegurar as liberdades individuais e coletivas é um ato de cidadania e de garantia dos direitos humanos, e tudo que vai de encontro a isso deve ser combatido! O aumento das passagens do transporte coletivo, de 8,66%, imposto aos cidadãos pernambucanos nesta semana (desde domingo, 09/01/2011) pelo Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), com o aval da Agência Reguladora de Pernambuco (Arpe), é um exemplo de afronta aos direitos e a cidadania, pois repercutirá negativamente na vida de milhares de trabalhadores e estudantes, sobretudo aqueles que necessitam se utilizar do transporte público diariamente.

É por isso que, em respeito ao cumprimento dos direitos dos cidadãos, por uma cidade mais justa, onde a liberdade de ir e vir sejam asseguradas, a Seção Recife da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB/Recife) repudia qualquer aumento na tarifa das passagens. Mais que isso, os Geógrafos da AGB/Recife repudiam a idéia de que um punhado de empresas e instituições, numa postura corporativista, controlem os corpos, decidindo o quanto eles devem se desdobrar para se mover na cidade.

Atenciosamente,
Associação dos Geógrafos Brasileiros / Seção Recife
13 de Janeiro de 2011

Fonte:http://reciferesiste.wordpress.com/

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