A Universidade Federal Rural de Pernambuco esta passando por um rápido processo de militarização. Seguranças de empresa privada circulam pelos corredores com arma de fogo, viaturas policiais e a cavalaria da policia militar de Pernambuco fazem rondas frequentes no campus de dois irmãos. O medo da violência urbana faz com que boa parte da comunidade acadêmica legitime a presença dos militares na universidade, deixando-os a vontade para coagir e reprimir as mais variadas ações estudantis.
Numa quinta-feira (01/12) estudantes foram abordados por policiais com a denúncia de tráfico de drogas e não se trata de um caso isolado, pois os policiais estão abordando estudantes no campus também por outros motivos; chegando a tolher, inclusive, a comunidade circunvizinha, proibindo-a de circular livremente na universidade, durante os eventos, inclusive nas calouradas.
Numa quinta-feira (01/12) estudantes foram abordados por policiais com a denúncia de tráfico de drogas e não se trata de um caso isolado, pois os policiais estão abordando estudantes no campus também por outros motivos; chegando a tolher, inclusive, a comunidade circunvizinha, proibindo-a de circular livremente na universidade, durante os eventos, inclusive nas calouradas.
Por esse motivo o REVOCULTURA realizará uma série de entrevistas com a temática:Quem policia a polícia nas universidades públicas?
Para continuar chamamos para essa roda de diálogo:
(Jimmy Carter )
Graduando em Ciências Sociais na UFRPE, Coordenador geral da casa dos estudantes da UFRPE, ex-conselheiro tutelar, documentarista, poeta e produtor cultural. Apresentou, durante dois anos, o programa Planeta Rock, na Rádio Bezerros FM e foi editor dos jornais Folha de Bezerros, Bezerros Hoje e A Voz de Bezerros.
Quanto o S.(a) acha que a presença da policia militar e de segurança privada armada fere a autonomia das universidades públicas?
Em muitos aspectos. Porém, mais precisamente no campo subjetivo: o bastante para causar nas pessoas, ao invés de um estranhamento, uma certa “aceitação” disfarçada de tranqüilidade. Digo estranhamento, porque é sempre natural que isso ocorra quando um ator qualquer é introduzido em uma cena da qual não faz parte, ou seja, sua simples presença tende a interagir como o contexto, de tal maneira, que o próprio contexto é modificado. E nós, vivemos em tempo difíceis, onde é mais fácil aceitar uma pseudo tranqüilidade mantida sob a vigilância negligente e ineficaz do estado, do que se aventurar na luta desencorajadora por liberdade e justiça, verbetes apagados dos dicionários das forças policiais pelo mundo a fora. A hegemonia norte-americana institucionalizou o medo transformando-o em arma política de manipulação das massas, e isso, inevitavelmente, reflete em nosso dia-a-dia. A mídia, sob a égide do capital, encontra-se totalmente comprometida em “fabricar” notícias rentáveis, baseadas no medo: o medo de perder o emprego, o medo de ser assaltado, o medo de ficar sozinho, o medo de engodar. Isso mexe com a cabeça das pessoas, condicionando suas tomadas de decisões.
O impacto disso no âmbito objetivo das interações sociais materializa-se no clima de tensão evidenciado na própria fisionomia dos policiais, que, no legítimo exercício legal de suas funções, encaram todos: estudantes, professores, técnicos e pessoas da comunidade local, com o olhar severo do acusador, transformando estes, mesmo inconstitucionalmente, em suspeitos, “até que se prove o contrário”.
Acho realmente um erro abrir mão da luta por uma segurança qualificada, que entenda e reproduza os valores do respeito às liberdades individuais, à livre construção do pensamento, à convivência pacífica com a diversidade e a proteção dos indivíduos; recorrendo-se para tanto, a soluções simplistas como a terceirização do serviço, ou ainda, o consentimento para que o estado intervenha em uma jurisdição de completa responsabilidade da união. Isso, para mim, não é apenas um desvio de competências, é, por sua berrante inconstitucionalidade, verdadeiramente, um crime de lesa a pátria.
Por outro lado, só as pessoas de bem se sentem incomodadas ou constrangidas pela presença de uma força policial de patrulhamento ostensivo abrindo mochilas, revirando bolsos e cheirando a mão das pessoas em locais de convivência e vivências acadêmicas. Os bandidos de fato, não teem se mostrado intimidados, haja vista a recente tentativa de estupro e os constantes assaltos ocorridos no campus de Dois Irmãos da UFRPE. Isso só constata a ineficácia da medida e compromete o papel da universidade enquanto ente formador de um pensamento social livre e irrestrito.
Qual é o papel da polícia militar dentro do campus numa conjuntura de democracia representativa no Brasil?
Essa é uma boa pergunta e quem descobrir, por favor, me explique (rsrsrs). A meu ver o papel de qualquer polícia, em qualquer ambiente e em qualquer parte do mundo é o de exercer o poder coercitivo do estado através de sua presença e, se necessário, inclusive utilizando-se de força bruta. Não existe outra função para a polícia além desta. Assim como não existe outra função para a arma se não a de matar e, tanto quanto o fardamento policial, sua simples presença é um elemento coercitivo, que altera o equilíbrio do espaço de convivência.
Por que o estopim é vinculado ao consumo de maconha e não outros fatos mais sérios que deveriam mobilizar a comunidade acadêmica?
Acredito que isso seja apenas mais um fruto da omissão da instituição no sentido de ela própria não promover um debate sério sobre a questão do consumo de drogas na sociedade. Para a reitoria talvez seja mais cômodo encher o campus de “cães de guarda” prontos para, ao menor sinal de “anormalidade”, atender à voz de comando oficial: “pega!” Isso é preocupante, porque além dessa falta de compromisso com a construção de um pensamento social livre de tabus e, por tanto, racional por natureza, a universidade simplesmente abre mão de sua responsabilidade enquanto ente social produtor de conhecimento, atendendo ao chamamento do sensacionalismo oportunista dos meios de comunicação cujo único interesse é manipular a opinião pública a fim de obter vantagens. Como no conhecido caso da emissora de TV que, a mando de seus anunciantes da rede privada de ensino superior, empreendeu uma covarde tentativa de denegrir a imagem da Universidade Rural e de seu corpo discente.
Quem policia a polícia nas universidades públicas?
Na atual conjuntura acredito que nem Deus. Nesse contexto o cidadão dispõe de poucas ações de defesa além do bom senso em evitar confrontos, todo o resto é risco de tapa na cara.
Nenhum comentário:
Postar um comentário