terça-feira, 4 de outubro de 2011

“Um passo a frente e você não estará mais no mesmo lugar”


Com a crise do petróleo, milhares de pessoas começaram a reclamar dos governos que não se prepararam para o desabastecimento de gasolina e diesel e foram reclamar da falta de subsídios e outras vantagens que evitassem soluções mais radicais. Afinal, pensar cansa e sem alternativas aparentes, melhor brigar para manter o que há do que arriscar o novo.
Apesar de parecer bem atual, a situação descrita acima ocorreu há cerca de 35 anos, na França durante a primeira crise do Petróleo, quando os países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) resolveram aumentar em mais de 100% o preço do barril do petróleo vendido.
Nesse ano, muitos reclamaram que o aumento dos preços tornaria a vida mais cara e mais difícil, um grupo de especialistas decidiu reunir-se e buscar soluções que facilitassem os deslocamentos e diminuíssem a dependência do automóvel e do petróleo por consequência. Após anos de discussões, no I Congresso de Cidades Acessíveis foi apresentado o projeto que criaria o Car Free Day, como mecanismo de mobilização e reflexão sobre alternativas nos deslocamentos que ganhou um foco mais de sustentabilidade, indo além de simples diminuição da dependência do petróleo. Após os encontros seguinte, realizados em Reykjavick (Islândia), Bath (Inglaterra) e La Rochelle (França), foi realizado o I Dia Sem Carro na cidade islandesa.

Em 1998, dentro dos planos de vários encontros desde o de Toledo em 1994, numa estratégia de ampliar para mais cidades do mundo, a proposta, foi realizado em 22 de setembro de 1998, em Paris e mais 34 cidades francesas, o programa “Na cidade sem meu carro”, que foi muito bem sucedido em sua tarefa de propor deslocamentos alternativos [transporte público, a pé e de bicicleta] pelas cidades, contando com a adesão nos anos seguintes de mais cidades na França, Itália e Inglaterra (em 1999).
Em 2000, a iniciativa do programa “Na Cidade Sem Meu carro” ganhou uma nova dimensão com a realização do até então maior Dia Mundial Sem Carro em Bogotá. A experiência da capital colombiana que aderiu ao Consórcio Car Free Day foi expandida para o mundo, acontecendo em cada vez mais cidades em diversos continentes.
Os primeiros registros de iniciativas no Brasil*, vem do ano de 2003, em São Paulo, quando ocorreu a 1ª Bicicletada do Dia Mundial Sem Carro. De lá pra cá, o aumento da discussão sobre mobilidade integrada com transporte público e por bicicleta e a pé ganhou mais cidade brasileiras.
No Grande Recife, a primeira mobilização ocorreu em 2010, com a realização da 1ª Bicicletada do Dia Mundial sem Carro do Recife, no dia 22 de setembro. Em 2011, grupos de ciclistas e Coletivos e Moviemntos articularam-se para a realização de eventos durante todo o mês de setembro, totalizando 7 eventos semanais, além de alguns não-planejados e e que geraram mobilização e repercussão.
A moral da história é que com muitas pessoas que desejam realmente fazer a diferença, muita coisa torna-se possível. O bom de se pensar de forma ousada é que entre atividades de cunho político, social, pedagógico e de lazer, há atividades envolvendo a bicicleta e/ou modais sustentáveis no Grande Recife desde a Bicicletada Agosto. Segue a lista e uma breve descrição de cada:
03.09.11 — O Dia Em Que As Bicicletas Invadiram O Metrô: A ideia dessa “invasão” era sensibilizar o ciclista sobre a possibilidade de uso da bicicleta nos finais de semana e feriados em todas as linhas e estações da Metrorec. Além de buscar canais de diálogo com a mesma para debater a possibilidade de ampliar o horário, bem como outras medidas – bicicletários nas estações, por exemplo (vídeo de Israel Costa).

07.09.11 — Pedalada da Independência: Entre todos os meios de transporte, a bicicleta permite a quem a conduz andar mais do que a pé e menos – porém com mais qualidade, do que de carro. Além dos benefícios econômicos, sociais, ambientais, culturais que vão além de só quem pedala. A ideia de intervir no desfile cívico e no Grito dos Excluídos foi justamente mostrar a autonomia que a bicicleta proporciona e lembrar que atuais problemas de mobilidade – decorrentes do planejamento urbano em função do veículo motorizado indiviudual segrega a população que não tem acesso ao carro, ou que é empurrada para as periferias cada vez mais distantes sem transporte público, estrutura para bicicletas, com calçadas ruins. (Fotos: Bernardo Dantas/DA Press, Israel Costa, Rei Moura)

09.09.11 — Mostra de filmes sobre Ciclomobilidade; Realizado em parceria com o Lumo Coletivo, a ideia foi usar outros meios de sensibilização, através da mídia audiovisual. Foram exibidos vários filmes, com destaque para o documentário brasileiro “Apocalipse Motorizado”, filme de 2006, dirigido por Tiago Benicchio e Branca Nunes.
17.09.11 — Caminhada do ODR: Um roteiro afetivo e histórico feito a pé pelas ruas do Centro do Recife. Essa foi a proposta do Observatório do Recife, que realizou a II Caminhada.
22.09.11 – Dia Mundial Sem Carro: O dia mais esperado do mês para os ciclistas contou com uma Vaga Viva em pleno centro do Recife, um dos locais onde as vagas de carros são mais disputadas, para provocar a reflexão de quanto espaço, o automóvel ocupa nas cidades. À noite, saiu da praça do Derby, a Bicicletada do DMSC 2011!!! (vídeos: Renato Fernando e Anderson Freire/respectivamente)

30.09.11 — Bicicletada da Árvore: mostrando que apesar de ter pessoas com interesses distintos, mas que em comum possuem o gosto pela bicicleta, os participantes da Bicicletada de setembro mostararam que não são monotemáticos e lembraram a importância das árvores e dos biomas brasileiros ameaçados pelas mudanças propostas no Novo Código Florestal, a construção da usina de Belo Monte e a falta de políticas municipais de arborização. Foi uma festa bonita, como sempre e que ainda constinuará com o plantio de mudas em outubro (vídeo: Anderson Freire).

05.10.11 — Assembleia do ODR – Construção Coletiva da Mobillidade Sustentável no Grande Recife: encerrando a programação prevista para setembro, acontecerá uma reunião para a discussão sobre a construção coletiva da Sociedade para uma mobilidade sustentável no Recife e Região Metropolitana. O evento será aberto a qualquer pessoa e contará com a participação do Especialista em Mobilidade Urbana, Germano Travassos.
Graças ao interesse de todos por cidades melhores, com mais bicicletas e mais opções de deslocamento além do carro um passo ousado e irreversível foi dado. Que  mentes inquietas como as que ajudaram a tornar a programação recifense do Dia Mundial Sem Carro, algo possível podemos esperar de tudo. Até algo comparável somente à tempestade de ideias que deu origem ao Dia Mundial Sem Carro.
Mais informações sobre ações e outros pedais de setembro podem ser conferidas no Blog do Enio “Paipa” Magalhães, AQUI.
http://bicicletadarecife.wordpress.com


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