O ano de 2001 foi um
marco político e socioeconômico na República dos “hermanos”. O fim de um pacto
entre a burguesia industrial e o Estado Nacional levou ao aprofundamento de uma
crise econômica e política sem precedentes. As consequências foram amargas:
falência do sistema financeiro, altos índices de desemprego e perda de direitos
trabalhistas. E, claro que a elite declarou falência e retirou seu capital da
reta com uma forte ajuda do mau governo.
Dentro deste contexto,
emergiu com força o Poder Popular e uma resistência dos de baixo na construção
de um Projeto Político Autônomo e Criativo. Milhares de fábricas ocupadas,
retomada da cultura popular, florescimento de rádios e Tvs comunitárias, bibliotecas,
assembleias barriais, cooperativas, hortas urbanas, centros culturais, feiras
livres e da vida solidária.
Reconhecemo-nos na luta
por outras formas de fazer e viver a política, de não vivermos mais a imagem distorcida
colonizadora/racista, da busca de ações diretas emancipadoras e
transformadoras. São inúmeras as experiências autogestionadas que imprimem
outras formas de pensar e construir relações, subjetividades e afetos para além
do individualismo capitalista.
Percebemos um esforço
claro na construção de frentes políticas com correntes diversas da esquerda. No
entanto, parecem mais reluzentes aquelas que têm um apontamento não oportunista
e eleitoreiro como a luta contra a mega-mineria e contra a violência às
mulheres. Na realidade, diversos setores vêm buscando a força na tradicional
unidade para mobilizar pelas suas demandas, desta maneira, as ruas de Buenos
Aires são um palco de inúmeras mobilizações.
São muitos os caminhos
que as Raízes do Poder Popular ganharam, mas o trajeto parece muito claro: a
autonomia do povo perante o mau governo e os tubarões da elite econômica, um
longo e demorado caminho, porém com muito ânimo nos momentos do porvir.
É importante deixar
claro que estamos falando do mundo real com inúmeras dificuldades. Dentre as
principais, a precariedade das fábricas recuperadas, o Peronismo como força
política messiânica, a cooptação das bandeiras de luta de diversos movimentos
populares por parte do Kirchnerismo, assembleias longas e os protestos como
espetáculo sem real efetividade. Ou seja, na Republica das Batatas as
organizações sociais tem como principal desafio superar seus próprios vícios.
Mas deixamos um salve para a força destes indivíduos que, sem glamour, com
disciplina e disposição vêm rompendo as cercas da dominação diariamente.
Todo este esforço pode
cair por terra se não existir um esforço do povo argentino em reparar o
genocídio feito com os povos pretos e originários. Não adianta tentar esquecer,
pois a ferida está aberta e sangrando. Pior ainda, os pretos e descendentes dos
povos originários são invisibilizados nas favelas “villas misérias”,
mistificados na cultura folclórica e precarizados no trabalho.
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