quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Comunicação Livre e formação das redes


As redes sociais no ciberespaço são adaptações das existentes no mundo real, mas a tecnologia tem propiciado que elas apresentem um nível de individualidade maior que as reais.

Castells (p.48) comenta que “o mundo social da internet é tão diverso e contraditório quanto à própria sociedade. Assim a cacofonia das omunidades virtuais, não representa um sistema relativamente coerente de valores e normas sociais[...]”.

Com esse raciocínio não podemos afirmar ser as comunidades virtuais padronizadas, pois elas imitam a complexidade da sociedade, criando laços e desfazendo-os ao longo de sua existência.

Ainda em Castells (2003) descobrimos os dois princípios seguidos pelas comunidades virtuais. Sendo o primeiro da comunicação horizontal, da livre expressão e da fuga da censura das grandes corporações dos governos, valores compartilhados pelos Loaded. Há também o segundo princípio que ele chama de “formação autônoma de redes” (p.48), que é o princípio da formação, pois a web proporciona que qualquer pessoa encontre o seu destino, se não encontrar, dá a possibilidade de “criar e divulgar sua própria informação, induzindo assim a formação de uma rede [...] Assenta também as bases para a formação autônoma de redes como um instrumento de organização, ação coletiva e construção de significado.” (p.49).

Quando recorremos a Elias (1994, p.35) ele diz “[...] essa rede nada é além de uma ligação de fios individuais; e, no interior do todo, cada fio continua a constituir uma unidade em si; tem uma posição e uma forma singulares dentro dele”. O podcast do Loaded é um fio que constrói uma unidade em torno de si, que criou sua identidade dentro da rede, preenchendo o espaço para o tipo de cultura propagado por eles, e juntando outros que sentiam a necessidade de um canal como o Loaded, que fosse exclusivo, pela necessidade de individualização dos gostos e que fossem recíprocos como os canais da web, baseados na partilha de informações.

 As redes sociais como instrumento de afirmação

O ciberespaço proporciona uma rede de valores tão complexa quanto à do mundo real. A participação nas redes sociais acontece a partir de uma necessidade de afirmação perante o mundo virtual. A necessidade de afirmação fica ainda mais latente no universo cibernético, que é quando o acesso pessoal é facilitado, não mais precisando das convenções sociais necessárias dentro do espaço físico, que seria o diálogo fonético e a intromissão concebida, para buscar detalhes do comportamento alheio.

A vida virtual, organizada em redes sociais, é demasiada aberta e vulnerável. Ao adentrar em tais redes, deixa-se a mostra o profile, que em algumas redes, já há sistemas de bloqueio de informações, minimizando o efeito invasivo; para que amigos ou pessoas que tenham afinidades possam começar uma amizade. Tendo em vista essa abertura, existe uma preocupação estética, na construção dos profiles e da exposição visual, maior do que a já exigida corriqueiramente.

A confluência de opiniões é um fator preponderante para a construção de redes estreitas dentro dessa rede maior. O universo da web atua então em frentes diversas quando se analisa as redes sociais. Cada uma com suas peculiaridades e o tipo de adepto, dentro delas o individualismo é preservado através de páginas pessoais, sendo a representação pessoal na rede, o eu virtual. A junção desses profiles destinados a tratar de temas específicos acarreta na formação de comunidades, e o conjunto das comunidades e perfis pessoais constituem uma rede social específica. Castells (2003, p.109) afirma que:

Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da internet, a interação social on line desempenha crescente papel na organização social como um todo. As redes on line quando se estabilizam em sua prática, podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de laços e na mobilização.

As discussões que acarretam a formação de uma comunidade dentro da rede social são as principais fomentadoras da afirmação da identidade dentro do seio virtual. O favorecimento de minorias é um dos atrativos e cooptador de novos usuários a essa forma de interação social. Assuntos que em tempos recentes não tinham relevância alguma dentro das discussões do macro ganham força e embasamento, ao que não é necessária uma aproximação geográfica para articular movimentos, e sim uma aproximação de ideias.

O perfil do usuário das redes sociais se confunde com o perfil do usuário casual da internet. Com o advento da internet 2.0 onde prima pela velocidade da informação, essas redes tornaram-se fontes inesgotáveis de informações e com uma rapidez que supera quaisquer portais especializados em noticias, pois se trata de milhões de pessoas pondo informações na web, através dessas redes.

A construção da identidade se dá a partir da escolha ou da maior utilização de alguma rede social específica. As redes se diferem não no propósito, que é o de aproximar pessoas e fomentar amizades, mas nas suas especificidades. Algumas têm como foco principal a música como o My Space e o Last FM, outras são mais clássicas como o Orkut e o Facebook, abrangendo todos os assuntos, deixando que o usuário construa sua especificidade, o Livemocha é focado no aprendizado de línguas, enquanto o Twitter na troca de informações precisas e rápidas.

As redes sociais devem atingir a maioria dos acessos à internet num espaço de tempo curto, tendo em vista os aumentos sucessivos de visitas e associações. Dentro deste contexto do perfil virtual influenciando no físico/real, achamos que não só a construção da identidade, mas a formação do individuo passará pelos canais cibernéticos.

Essa abrangência exercida pelas redes sociais no ciberespaço pode levar a concentração de diversos conteúdos em suas fileiras. Como o caso do LastFM que tem conteúdo musical e o usuário pode montar sua própria rádio, ainda mais personalizada e individualizada que ao ouvir um podcast de sua preferência.

Alguns blogs e podcasts usam as redes sociais para divulgação, pela capacidade de atingir um grande número de usuários, sem grandes estratégias, pela capacidade de viralização que essas redes conseguem proporcionar.

A individualização nas redes

As redes sociais formadas na internet parecem, com um olhar descuidado, que uma homogeneização cultural foi empreendida, quando se analisa os números gerais do Facebook, com seus 800 milhões de usuários.30 Parece que uma sociedade sem vontades próprias foi formada, quando o que ocorre é uma sequência de milhões de outras redes, formadas dentro das maiores, por interesses diversos, que agregam pequenos ou grandes grupos, e usam as redes sociais como incubadoras desse processo.

Sobre isso, Elias (1994, p.122,123) diz que:

As pessoas só podem conviver harmoniosamente como sociedades, quando suas necessidades e metas socialmente formadas, na condição de indivíduos, conseguem chegar a um alto nível de realização; e o alto nível de realização individual só pode ser atingido quando a estrutura social formada e mantida pelas ações dos próprios indivíduos é construída de maneira a não levar constantemente as tensões destrutivas nos grupos e nos indivíduos.

Com essa afirmação, compreendemos que esses grupos menores, tem o que é necessário para uma convivência amistosa e saudável, pois a estrutura social é formada por convergências, o que diminui demasiadamente as tensões no grupo. É na individualização que a vida em rede tem sido mantida.

Castells (2003, p.110) afirma que “redes on-line tornam-se formas de „comunidades especializadas‟, isto é, formas de sociabilidade construídas em torno de interesses específicos”. É com essa especificidade que o usuário da web encontra nas redes virtuais, a satisfação e a contemplação que as mídias de massa e a sociedade não podem proporcionar. A individualidade nos interesses é atendida, mesmo estando em grupos.

Ainda em Castells (p.109) encontramos a importante passagem, em que ele descreve:

Assim, não é a internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em rede como a forma dominante de sociabilidade.

O individualismo em rede é um padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados.

Esse trecho do livro A Galáxia da Internet de Manuel Castells, sustenta a hipótese trabalhada na pesquisa, de que a rede tem como forma dominante relações de individualismo. No entanto alerta, que essas relações não são criadas pela internet, mas as ferramentas que são geradas por ela, como o podcast e as redes sociais é que difunde esse tipo de relação dentro da rede, a individualista. Deixa claro também, que essa relação de individualidade não gera uma massa de indivíduos que agem isoladamente.

quem queira, tendo uma gama de interesses acompanhados em seu perfil. Age individualmente quando somente segue os seus interesses através dos perfis, mas pode agir em rede quando compartilha informações com os seus seguidores, ou quando dialoga com o grupo.

Esse padrão de sociabilidade baseado no individualismo tem se tornado modelo nas relações mediadas por computadores. Segundo Wellman (2001, p.1 apud CASTELLS, 2003, p.109) “redes sociais complexas sempre existiram, mas desenvolvimentos tecnológicos recentes nas comunicações permitiram seu advento como uma forma dominante de organização social”. Demonstrando assim que as redes sociais no ciberespaço são adaptações das existentes no mundo real, mas a tecnologia tem propiciado que elas apresentem um nível de individualidade maior que as reais.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1994. Parte III. p. 118-193.

LEVY, Pierre. O que é virtual? São Paulo, Editora 34, 1996. Cap. 7,8.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003. Cap. 2,4,5,7,8.

MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: neurose. 9ª Edição, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1997. Parte I. p. 25-85.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 4ª edição. Rio de Janeiro, DP & A, 2000.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª edição, São Paulo, Editora Atlas, 2008.

COSTA, A. C. S. et al. Indústria cultural: revisando Adorno e Horkheimer. Movendo Idéias, Belém, v8, n.13, p.13-22, jun 2003. Disponível em: . Acessado em: 05 dez. 2011.

MELECH, A. M. S.; GODOY, E.R. Rádio web UTP como portal de podcasts. Cadernos da escola de comunicação, Curitiba, v5, p.1-9, 2007. Disponível em: . Acessado em: 05 dez 2011.

LEMOS, André. Ciber-cultura-remix. In: Cinético Digital , São Paulo, Itaú Cultural, 2005. Disponível em: . Acessado em: 04 dez 2011.

LUIZ, Lucio (Org.). O podcast no Brasil e no mundo: democracia, comunicação e tecnologia. In: Simpósio nacional ABCiber, 4, Rio de Janeiro, UFRJ, 2010. Disponível em: . Acessado em: 04 dez. 2011.

SITES CONSULTADOS

www.programaloaded.com.br

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www.lastfm.com

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