Por João Brant,
Do Brasil de Fato
É perceptível que os movimentos sociais são cobertos de forma parcial pelos grandes meios de comunicação, mas raramente as organizações se debruçam para mostrar como isso acontece concretamente. Motivado por essa curiosidade, o Intervozes realizou uma pesquisa sobre a cobertura feita pela mídia impressa e televisão sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no período da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, realizada em 2010 para investigar o movimento.
Os resultados não são exatamente surpreendentes. Pesquisados três jornais, três revistas semanais e dois telejornais, foram encontradas 301 matérias que citam o MST, entre reportagens e textos opinativos. O MST é tema, mas raramente é fonte – em apenas 18,9% o próprio movimento é ouvido. Além disso, há uma clara abordagem pejorativa: dentro do conjunto analisado, foram encontrados termos negativos em 59,1% das matérias. São quase 200 diferentes expressões negativas utilizadas para se referir ao movimento.
As matérias quase não abordam o tema da reforma agrária, que aparece em apenas 14,6% delas. Mais grave: em apenas 13% das matérias são citados dados estatísticos e em 13,6% são citadas legislações. No caso dos telejornais, esse número é 0% para dados e para legislação. Para piorar, das seis matérias veiculadas no período no Jornal Nacional e no Jornal da Record, apenas uma apresenta posições divergentes.
Esse conjunto de informações demonstra uma abordagem fortemente editorializada e panfletária por parte dos órgãos de mídia. Embora as conclusões não sejam surpreendentes, elas dão suporte à percepção da maioria dos observadores atentos. Deve-se ressaltar que o MST é um movimento conhecido, com assessoria de imprensa disponível para contatos dos jornalistas e com várias informações organizadas em sua página. Isso reforça o entendimento de que os problemas na cobertura não vêm da falta de conhecimento ou de acesso a informações pelos repórteres, mas sim de opções ideológicas feitas pelos meios de comunicação, tanto nas redações quanto nas direções. O estudo se chama Vozes Silenciadas e está disponível para baixar na página do Intervozes (www.intervozes.org.br).
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