segunda-feira, 8 de agosto de 2011

'Israel está começando a celebrar uma nova independência'

Os protestos massivos em Tel Aviv no sábado foram um imenso sucesso, mas o grande tese está no horizonte dos manifestantes e de Israel. Quando a multidão fala, como o fez no sábado à noite, não é preciso violência. Um regime que se mantém impassível a manifestações tão gigantescas teria de ser completamente insensível e, em todo caso, destinado a cair. O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu pode continuar a fazer piada junto aos seus ministros; seu destino está selado. O artigo é de Gideon Levy.


No sábado à noite Tel Aviv estava lotada de gente. Não foi a mãe de todos os protestos – foi a avó dos grandes protestos. A cidade parecia uma das cidades mais turbulentas da terra. Rios de gente fluíam em todas as direções, alguns a pé, outros de carro. Ônibus e trens expeliram multidões e nem todos conseguiram espaço para protestarem. Uma impressionantemente grande faixa, em hebraico e árabe – neste caso, enfrentando a ameaça ao status da língua oficial no país – onde estava escrito “O Egito é aqui”.

Na verdade, a imagem de ontem à noite parecia as noites da Praça Tahrir. Agora, a comparação com a revolução no Cairo não é exagero nem wishiful thinking (pensamento desejante). Agora realmente se parece com aquela, sem incluir violência, é claro.

E de fato, quando a multidão fala, como o fez no sábado à noite, não é preciso violência. Um regime que se mantém impassível a manifestações tão gigantescas teria de ser completamente insensível e em todo caso destinado a cair.

O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu pode continuar a fazer piada junto aos seus ministros; seu destino está selado. Os cínicos podem continuar a fazer pouco caso e a chamarem os protestos de “confusos” e “deteriorados” e ainda assim se trata de um protesto, do tipo que nunca se viu antes, aqui.

Ontem (sábado) Israel celebrou sua independência. Foi assim que a independência pareceu ser na nossa infância. Foi assim que a independência parecia quando o povo se tornou livre, quando acordou de seu inverno e verão de hibernação. Depois de todos os anos de represamento, a água transbordou. O ministro da defesa Ehud Barak falou de um tsunami que estava a caminho em setembro? O tsunami já está aqui. Ele chegou ao lugar menos esperado. As torres de sensores e o radar de Kirya, os quarteis em Tel Aviv, que tudo vêem, aos pés dos quais as massas se reuniram, não poderiam prever essa onda.

As massas se reuniram próximo a um dos símbolos do estado, o Kirya. É onde um pequeno grupo de pessoas se reuniu, durante a maldita Segunda Guerra do Líbano [2006] e a primeira Operação Chumbo Fundido, segurando tochas e ninguém prestou atenção. Ontem não se podia dar um passo em maio à multidão. Às portas do [quartel de] Kirya, para o qual a maior parte do orçamento do estado é alocada, muito além de suas necessidades, a multidão gritava: “O povo quer justiça social”.

Está certo, a gritaria não era diretamente para o Kirya, como deveria ter sido. As massas ainda não estão sitiando os portões de ferro. Mas talvez também venha a acontecer tal coisa. Enquanto isso, essa grande massa ameaça não só o governo de Netanyahu mas, ironicamente, o próprio protesto.

Uma massa como essa pode se unir em torno de objetivos claros? Será que as pessoas que chegaram a escutar Yehudit Ravitz, Rita e Schlomo Artzi ainda serão uma força de luta subversiva? No sábado, a raiva e o entusiasmo que foram o distintivo dos primeiros protestos formaram uma atmosfera festiva. Um festival Israel, uma cidade do carnaval.

Uma mulher, que disse ser apoiadora de Lieberman, contou que tinha vindo ver o milagre de Israel unificada.

Talvez isso seja a autoconfiança do protesto que faz com não se precise mais de raiva. Talvez seja um anúncio do que está por vir. Mas todos os que discursaram, inclusive um rabino ortodoxo, um Pantera Negra aposentado e um intelectual árabe foram claros: a música tem de mudar.
Só que na noite passada a maioria dos que discursaram tiveram um cuidadoso respeito pelo primeiro ministro. Talvez o tamanho da coisa tenha os assustado. Talvez seja a visão da cadeia no Cairo e talvez seja o medo da volta do debate esquerda versus direita na sociedade israelense, e o desejo de abraçar tudo isso.

Isso pode terminar em nada, pode terminar em lágrimas. Mas ninguém questiona o seu sucesso. E no sábado houve um imenso sucesso. Ainda assim, o grande teste ainda está por vir para eles, ainda está por vir para nós.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte:http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18195

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