Abaixo, difundimos uma parte da entrevista, realizada no marco da condecoração “Deodoro Roca” a Galeano por parte da FUBA, como exemplo para a juventude latino-americana na construção de uma cultura popular contra-hegemônica.
Juan Manuel Karg: – Ali eu escutava – antes de vir, assistimos muitas entrevistas, porque você é um tipo de pessoa que expressa muito bem o que sente – e sobre o que te dizia Ignacio, da Venezuela, assistíamos esta entrevista. Acredito que foi um painel, pra dizer verdade, na Itália, onde você qualificava Chávez, entre aspas, obviamente, como um “estranho ditador”, no sentido que...
Eduardo Galeano: – Claro, que havia ganhado 12 eleições. É um ditador rarírssimo, porque ganhou 12 eleições. É muito raro que um ditador ganhe 12 eleições, limpas. Sim, porque Franco ganhava as eleições, e as ganhava com 115% dos votos (risos). 120 por cento. Eram fraudulentas, claro, mas estas são eleições limpas. Eu fui observador de uma destas eleições, observador internacional. Elegeram-me delegado os observadores, e estive seguindo passo a passo a eleição, junto com Jimmy Carter, que é ex-Presidente dos EUA, e com Gaviria, da OEA. Os três. Eu pelos observadores independentes, e eles dois, cada um por sua organização. E estivemos todo o dia e noite, até as 7 da manhã que demos a conferência de imprensa, e nós três confirmamos. Gaviria não estava muito convencido a princípio, mas depois teve que aceitar que não havia nenhum dado concreto que permitisse afirmar que essa eleição não havia sido limpa. E, bom, afirmamos os três: essa eleição foi limpa, e as outras também. Eu lamento pelos opositores, ninguém gosta de perder. Mas não foram fraudulentas. Porque se eu dissesse “Chávez ganhou 12 eleições fraudulentas”, bem, então sim, claro que é um ditador. Mas é um “raro ditador” que as ganhou de modo limpo.
Juan Manuel Karg: – Claro, a orientação da pergunta ia também para ver como operavam ali os meios de comunicação, que indubitavelmente tem muito na construção midiática, e também que significa e ensina o processo bolivariano, em suas grandes conquistas, em saúde e educação. Você que viajou, pôde ver isto? Que construção midiática existe sobre o processo bolivariano?
Eduardo Galeano: – Bem, tem os meios contra, em geral, não? E a verdade é que não é muito honrosa a atuação dos meios dominantes na Venezuela, como ficou evidente com o Golpe de Estado de 2002. Quando houve um golpe de Estado; certamente, Chávez também havia dado um Golpe de Estado, ou seja, ele tem experiência na matéria. Depois o atingiu como Presidente, mas antes havia tentado um golpe de Estado. E pagou com três anos de prisão. Ou seja, não foi impune sua participação em um golpe militar. Em troca, dos que deram o golpe contra ele, nenhum foi preso. E nenhum foi preso porque ele mesmo decidiu que ninguém fosse preso. E, além disso, a justiça não os condenou porque é uma justiça bastante injusta. Mas... O que aconteceu com os meios de comunicação enquanto durou esse Golpe de Estado absurdo onde foi “eleito” Presidente do país o “Presidente” dos empresários? Sim, era idêntico ao Mister Burns (risos), o patrão de Os Simpsons, de Homer Simpsons. Igualzinho (risos). “Como é isto, um milagre da televisão? Estou olhando Mister Burns!”. E era, como se chamava? Carmona...
Juan Manuel Karg: – Pedro Carmona, Presidente da Fedecamaras…
Eduardo Galeano: – Sim, Fedecamaras. Me lembro porque a imprensa, os grandes meios de comunicação no mundo saudaram: “Volta a democracia à Venezuela”, “Acabou-se a ditadura de Chávez”. Bem, durou 48 horas essa euforia. E às 48 horas em troca Chávez voltou ao poder voltou ao poder que havia ganhado legitimamente. E ao que tinha direito. Durou 48 horas, mas ao cabo dessas 48 horas, quando Chávez volta a ocupar seu lugar no Palácio de Miraflores, em Caracas, os grandes meios venezuelanos não se inteiraram. Durante 24 horas passaram “comiquitas”, os grandes canais de televisão e as grandes rádios não deram a notícia. O Presidente havia voltado, havia milhões de pessoas nas ruas. E os grandes meios de comunicação não comunicavam o que não lhes convinha comunicar. Ainda que se chamem meios de co-mu-ni-ca-ção. Que tipo de comunicação é a que não comunica esses grandes meios? E esses grandes meios são, portanto, suspeitos. Às vezes dizem a verdade, mas em geral se equivocam, porque tem uma visão de mundo ditada pelos que manda. E os que mandam, mandam ver o mundo ao contrário.
Fonte:http://diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=18109:galeano-na-venezuela-meios-opositores-tem-visao-de-mundo-ao-contrario&catid=235:comunicacom&Itemid=156#.Tjgeu7kCUCA.twitter
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