andando pelas ruas não-oficiais de um bairro nobre. precisava pegar uns livros com uma amiga. o dia tava meio feio, céu branco demais, meio nublado, não tinha rolado aquele sol, meio estressada com a tarefa que me aguardava: pegar os livros, ler e escrever a merda do trabalho - que não era tão ruim assim, mas já tava me cansando. tudo bem, caminhemos. dessa vez com um head-phone no ouvido pra caminhar numa bolha e não prestar atenção no dia cinza cheio de carros. resolvi, de fato, ir pelas ruas não-oficiais do bairro. existem umas favelas ali! umas favelas ilhadas, pequenas, só quem conhece é quem passa por dentro. o bairro é todo "encaixotado", vários prédios altos, um do lado do outro, não dá pra ver nada. mas ali estavam umas duas ou três ruas não-oficiais que eu não conhecia no meu próprio bairro. lentamente, tirei o head-phone da orelha e ele ficou dentro da blusa tocando keep talking. perdão a pink floyd, mas eu precisava ouvir o barulho daquela vizinhança. continuei caminhando, meio idiota, né, uma antropóloga deslumbrada com a favela. mas eu só queria ouvir o barulho dos não-carros. entrei por um beco, saí e passei por um amontoado de pessoas que fazia uma refeição no chão. um dos rapazes estava se levantando, com uma sacola, indo embora, passando do meu lado, caminhando na mesma velocidade. andamos lado a lado por uns 3 segundos, ele me olhou e balançou a cabeça como se dissesse "opa!" e eu retribuí com o mesmo gesto, sorriso leve, andando. ele não perdeu a oportunidade e disse ainda "boa tarde, minha cumádi!" quando logo lhe respondi "bôua..." e ganhei o dia. cidade grande, gestos pequenos.
Maria Comadre
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