terça-feira, 1 de março de 2011

Norte da Grécia: Exercícios militares de repressão de revoltas, no âmbito da OTAN e do exército europeu

De acordo com as queixas dos soldados de vários batalhões da 71ª Brigada Aerotransportada “Pontos”, com sede em Nea Santa Kilkis, Norte da Grécia, entre quinta-feira 3 de Fevereiro e 4 de Fevereiro foram realizados na cidade de Koromilá exercícios militares de repressão de manifestações, sob a supervisão dos chefes civis e militares das Forças Armadas.
 
As revelações da Rede Livre de Soldados Spartacos - sobre a formação da 71ª Brigada Aerotransportada em tácticas e métodos de repressão de manifestações - descontrolaram o comandante do Batalhão 596 de Argirúpolis. Insultando, ameaçando e aterrorizando os soldados, afirmou: “Somos uma força dirigida pela OTAN. Estamos a ser treinados para reprimir manifestações não na Grécia mas sim noutros países. Amanhã podem nos enviar para o Egipto, para reprimir a revolta. Esse é o nosso papel”

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a seguir, a carta aberta dos soldados da 71 ª Brigada Aerotransportada:

Carta aberta de soldados da 71ª Brigada Aerotransportada

Repudiamos qualquer participação em operações de repressão de manifestações. Basta de mentiras dos oficiais do Estado Maior e do Ministério da Defesa. A formação dos soldados da Brigada Aerotransportada 71, em Kilkis, progride. Ser “boina vermelha” (como se tivéssemos sonhado com ela alguma vez) requer sacrifícios, correr e suar. Como se revelou, neste tipo de formação temos que desempenhar o papel de manifestantes num simulacro de repressão de uma manifestação. Por isso, pediram-nos para não fazermos a barba.
A publicidade e as reclamações sobre este assunto provocaram as primeiras reacções. No quartel, na inspecção da manhã, o capitão informou os soldados da existência da denúncia, passando ao ataque e acusando os autores de falta de rigor e de divulgarem mentiras. Falou de cobardia, exortando os soldados a expressarem-se imediatamente, na reunião dessa manhã. Em poucos segundos mostrou a sua verdadeira face, empregando ameaças de encarceramento e de tribunais militares.
A nossa opinião é semelhante à do resto da população: é uma cobardia esconderem-se atrás dos galões e da hierarquia, separando a vida no quartel da do resto da sociedade, proibindo até a publicação das “arbitrariedades”, que as sentenças judiciais permitiram a todos os uniformizados. Trata-se de resistência, de um direito e de uma obrigação nossa para com o povo grego, dar-lhes conhecimento da conversão do exército numa guarda civil.
Em seguida, disse-nos que estava apoiado e que não tinha medo de nada. Quanto mais ênfase punha no caso mais se notava que estava numa posição difícil.
Como balanço, uma única carta foi suficiente para lhes causar um problema e pôr em causa a nossa participação nesta fantochada, a qual, entre outras coisas, é um insulto à nossa dignidade. Se quisermos protestar, sabemos onde, quando e por que fazê-lo. E isto nunca será um ensaio para um novo e sofisticado tipo de repressão. Em breve enfrentaremos o governo do PASOK- o tal que desmantela e privatiza a Saúde e a Educação, que suspende os direitos laborais e a segurança social, que nos deixa sem trabalho.
Mas o melhor ainda estava para vir com o discurso do comandante. Segundo ele, a Grécia pertence à UE, o exército grego faz parte do Exército Europeu e a partir da Primavera é obrigado a ter dois esquadrões de repressão de manifestações! Esses esquadrões não se destinam a ser utilizados na Grécia, mas para “missões cujo propósito sejam processos de paz”, onde muitas vezes há a necessidade de intervir entre duas “facções em conflito”, como por exemplo, no Kosovo. Trata-se da revelação completa de todo o projecto! Onde estão pois as imprecisões e mentiras de que nos acusam?
São os oficiais e o comandante da 71ª Brigada Aerotransportada, o Estado-Maior General e o ministro da Defesa Nacional que enganam o nosso povo, ao utilizarem mentiras propagandísticas.
- Que facções em guerra são separadas agora pela OTAN, no Afeganistão?
- Desde quando a intervenção da OTAN no Kosovo, onde sérvios e albaneses lhes são hostis, é uma “missão de paz”?
- A OTAN e o Exército Europeu não defendem os interesses dos armadores na Somália?
Rejeitamos o termo “missão de paz”, já que nos pomos do lado do nosso povo, que rejeitou os “bombardeamentos humanitários” da OTAN contra o povo jugoslavo, cujo objectivo era o desmembramento do país e a imposição da soberania da OTAN, dos Estados Unidos e da UE.
Directa ou indirectamente a OTAN e a União Europeia provocam guerras e conflitos entre civis, formando uma série de novos países com novas correlações políticas, sociais e económicas, ao serviço de interesses específicos. Os governos dos países da UE, a administração Bush e a OTAN, armaram, instruíram e incitaram o chamado Exército de “libertação” do Kosovo (UCK), os mesmo a que hoje acusam de contrabando de armas, de drogas, de mulheres e de crimes contra a humanidade.
A OTAN e o Exército Europeu são forças de ocupação, sob o título de “missão de paz” garantem é a estabilidade das novas correlações e dos novos interesses.
Acabemos já com estas histórias.
No Kosovo, Afeganistão, Somália e noutros países, a Grécia não exporta paz, é somente ocupação. É o destino destas missões, descaradamente classistas e que exigem uma nova forma, mais policial.
Com o Tratado de Lisboa, a OTAN foi nomeada a garante da Nova Ordem Mundial, mantendo o direito de interferir nos assuntos internos dos países para reprimir as revoltas sociais causadas pela crise financeira. Porque o seu inimigo não é só o que os militares enfrentam ou os “terroristas”, mas qualquer força social que ameace o status existente.
Contra os manifestantes é necessário mais do que metralhadoras e banhos de sangue (que podem provocar a opinião pública). No início, fazem falta produtos químicos, balas de borracha e cassetetes em número maior ao que a polícia normalmente utiliza. Se a intensidade das explosões sociais o justificar virão os tanques.
As novas doutrinas militares da OTAN e do exército europeu é que são a fonte da nossa preocupação. Para elas o Inimigo, em última instância, é o que põe em perigo o sistema. Uma parte dos funcionários do governo e o próprio primeiro-ministro elevaram a “ameaça nacional” una série de questões como os imigrantes, as greves indeterminadas e as manifestações massivas.
Por que é que deveríamos estar seguros de que os treinos para a repressão das manifestações no âmbito da OTAN e do exército europeu servirão apenas para a Brigada das Balcãs no estrangeiro? (Não que isso nos vá tranquilizar.)
Não deveríamos aprender com a experiência mundial, onde as tropas imperialistas treinadas dos EUA-Espanha-França-Grã-Bretanha, Itália, retornando aos seus países, têm assumido o papel de repressão contra o inimigo interno e de consolidação do ambiente de segurança do regime de autoridade burguesa.
É claro que o poder está a preparar-se, ao introduzir o Exército, ainda que indirectamente e num ambiente intimidatório, através da “operação” repressão. Já o provaram na Grécia, em Dezembro de 2008, tal como na grande greve geral de 5 de Maio de 2010.
Examinando, no entanto, os exemplos mais recentes de países africanos, é óbvio que se o povo o quiser nem o exército os poderá controlar.
Rede de Soldados Livres Spartacos
diktiospartakos.blogspot.com
tradução por E.C.
Fonte: Contra Info

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