domingo, 15 de julho de 2012

Occupy the world!

Porque ficou entalado...



Em um ambiente extremamente institucional e ritualístico, ocorreu, no dia 12 de julho, uma palestra do filósofo Vladimir Safatle. O terno, o ar-condicionado, a burocracia e as câmeras não condiziam com o tema: o movimento occupy. Não ficou muito claro o que o pensador acredita ser esse movimento: a única certeza a respeito das novas mobilizações que impressionaram o mundo é que não há certezas. Isso não é um problema, pois já se passaram os tempos das grandes certezas e é melhor nos adaptarmos a isso.

Há uma riqueza filosófica inegável no discurso do pensador. O seu panorama do século XXI me impressionou e muitas vezes foi trabalhoso para acompanhar. Se tanta erudição é algo frutífero ou não, é algo que não pretendo discutir aqui. Vou me ater a sua análise política, para não cometer o mesmo erro que percebi em Safatle: “fuga ao tema”.

O que é a esquerda de que tanto falou o filósofo Vladimir Safatle? Na palestra não ficou exatamente claro quem era esse grupo que o filósofo compreendia como tendo um papel crucial no transformar do mundo. Ao refletir sobre a Itália atual, afirmou não existir esquerda. O que foi então o 2001 de Gênova, o que são o movimento No-TAV (movimento contra o trem de alta velocidade Lyon-Turin), os recentes distúrbios em Roma e as recentes ondas de prisão de insurrecionalistas autônomos? Tudo isso não é uma esquerda pujante e extremamente combativa? Se não, quem é então esse ator social que não é a esquerda, mas que parece desejar a quebra dessa ordem com tanta paixão? Para quem foi falar sobre o occupy,causa um grande desconforto ver que o foco na verdade estava na política institucional.

O que pareceu é que o filosófo Vladimir Safatle é um dos tímidos discípulos do “Camarada Lênin”, como ele mesmo o chamou. Um intelectual com um pé no trotskysmo e o outro tentando alcançar o caráter autônomo do movimento Occupy - mas que dele não parece colher bons frutos; um pé preso no estatismo e o outro tocando timidamente o grito dos “que se vayan todos”! Como bem apontou o filósofo, o dilema entre reforma e revolução deve ser superado na esquerda atual, mas isso não significa que a solução é um pragmatismo político-institucional. No campo das proposições as idéias eram muito semelhantes às do PT, mas com retoques intelectuais. O que absorvo das ruas que vibram, nos últimos anos, é que a solução não é uma melhor reforma tributária e sim a eliminação por completo do Estado e do mercado como gestores da nossa vida. Os que constroem os novos caminhos da esquerda não precisam de uma teoria do governo, pois superaram a idéia de poder. Essa superação não é ingênua, é um trabalho árduo e que beira a irrealidade na busca do antipoder, da insurreição que nos devolva as nossas vidas.

Por que o filósofo se interessou pelos Occupy quando não parece ter absorvido justamente aquilo que eles tinham de inovador? Por que ele ainda insiste em tomar o poder, em Estado de bem-estar social e no “Camarada Lênin”?

Que se vayan todos! Esse grito que veio dos piqueteiros na Argentina e alcançou a Europa com os indignados e muitos outros, não parece ter alcançado o filósofo Vladimir Safatle.

Fonte: Email 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...