Por Otávio Nagoya
Da Caros Amigos*
A mentalidade conservadora sempre ditou que a educação era necessária somente nas cidades. Afinal, por que um trabalhador rural precisaria ler e escrever? Porém, a articulação dos movimentos sociais no campo vem alterando, na prática, essa situação.
A partir da vivência nos acampamentos rurais ficou evidente que a luta pela reforma agrária está diretamente relacionada com o acesso à educação. Um marco fundamental para o movimento de educação no campo foi o primeiro Encontro Nacional dos Educadores da Reforma Agrária (ENERA), realizado em julho de 1997, na Universidade de Brasília (UnB).
Na ocasião, organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento das Mulheres Camponesa (MMC), entre outras, lançaram um Manifesto das Educadoras e Educadores da Reforma Agrária ao Povo Brasileiro.
O manifesto defende uma “identidade própria” nas escolas rurais, além de “um projeto político-pedagógico que fortaleça novas turmas de desenvolvimento no campo, baseadas na justiça social, na cooperação agrícola, no respeito ao meio ambiente
e na valorização da cultura camponesa”. A partir da luta unificada dos movimentos rurais, houve alguns avanços na educação, porém os números ainda são alarmantes.
As pesquisas realizadas nas últimas décadas mostram a redução progressiva da população rural. Os dados do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que somente 15% da população
total do Brasil vivem em áreas rurais. Segundo o IBGE, em 2000, a população rural era cerca de 19%, sendo que os dados do Censo 1980 mostravam 32% da população em situação rural.
Por isso, Cristina Vargas, do setor de educação do MST, relembra que, desde a década de 80, quando surge o MST, sempre houve muita demanda para a educação nas áreas rurais. “A educação que nós queremos para o campo não é somente uma educação básica, queremos toda a educação, desde a educação infantil até a universidade, com todas as possibilidades que isso possa vir a trazer”.